Monday, August 17, 2009

O Branco matou um cara?

brancoromario

Acho importante noticiar aqui a volta de um dos grandes ídolos do clube, Cláudio Ibraim Vaz Leal, conhecido mais popularmente pela alcunha de BRANCO. Voltou para botar na ordem na casa. Acabei de ler em algum lugar que ele gosta de oferecer incentivos financeiros para animar os jogadores. ELE, que está com sei lá quantos processos por dinheiro não recebido do Fluminense. Ironias do destino.

Mas quem é Branco? De acordo com um camarada especialista na história fronteiriça do Brasil meridional, o Branco, que é de Bagé, começou inspirado por um jogador local (cujo nome nos escapa) que era, além de boleiro, peão de estância. Certo dia seu poncho ficou preso na colheitadeira de arroz e o cidadão virou pó.

Teria vindo daí toda aquela violência na perna esquerda? Não sei. Sei que, odiado por muitos, Branco foi um de meus primeiros heróis. Que o futebol podia ser violento eu já havia aprendido, e muito bem, com meu querido Chulapa. Mas que podia ser mortal, isso foi o Branco quem me ensinou. Nunca me esquecerei daquele fatídico jogo entre Brasil e Escócia pela Copa de 1990 na Itália.

Neste jogo, Branco MATOU O JOGADOR MACLEOD da Escócia com uma bolada a mais de 100 km/h. Poucas coisas em minha vida eu acreditei com tanto afinco e por tanto tempo quanto a idéia de que a letra da música “I’ll be there” dos Jacksons Five era “I’ll be dead” e a de que o Branco havia matado esse cara aquele dia. Eu me refestelava em minhas memórias. Virei meio que batedor de faltas por causa disso. Avisava a todos: “cuidado, o BRANCO vai bater a falta!”

Você também já deve estar se lembrando do fato de que o Branco cegou um jornalista com outra bolada. É importante não misturar as histórias. Nossa memória pode ser traiçoeira.

Os anos foram se passando e aquela lembrança da máquina mortífera chamada Branco foi se cristalizando em minha mente. Mas por muitos anos mesmo. E nunca era contestada por ninguém. Quando iniciei o curso de História na Universidade Federal do Paraná (estado que, como Florianópolis, é marcado por torcedores com dois times), me aproximei de uns maloqueiros que apreciavam futebol. Nós causávamos um estardalhaço fodido com nossas discussões futebolísticas pelos corredores daquela Universidade. Os tocadores de violão apreciadores de Raul Seixas nos alertavam que "futebol era alienação." Ah, vá, vá, vá. ZZzzzZZzzzz. Sono do caralho.

Certo dia, em uma discussão calorosa acerca da Seleção Brasileira, fiz questão de elaborar uma defesa de dois dos meus jogadores favoritos, Dunga e o supracitado Branco. Afinal de contas, Dunga tinha cravado a chuteira dele nas costas de um Uruguaio enquanto Branco havia matado um cara.

Luís Rafael, um querido amigo torcedor do Coxa, se enfureceu com tal afirmação. Eu não voltei atrás e a discussão assumiu proporções épicas, envolvendo professores, funcionários e até mesmo o Reitor. Mas ele apelou e escreveu para os caras do programa Loucos por Futebol, que responderam com uma descrição detalhada de onde vivia Murdo McLeod, o que fazia da vida então, e colocava por terra a idéia de que Branco havia mandado o escocês para o além túmulo com um traumatismo craniano. Fui objeto de escárnio por algum tempo. Cabisbaixo, tive que aceitar, pois prezo pela verdade e ainda acredito em objetividade. Talvez eu tivesse errado. Minha memória havia me enganado.

Mas evidências contrárias começaram a pulular. Talvez eu não estivesse louco. Afinal de contas, quem aqui nunca ouviu que o Branco matou um cara com uma bolada?

Em uma tarde agradável na casa de meu amigo Leo Motta eu folheava um album de figurinhas da Copa de 90.

capa album

Estava olhando distraídamente quando chego na seleção Escocesa.

pag inteira

Na hora meu coração disparou. Não era um sonho?

dead

Eu estava certo! ELE HAVIA SIDO MORTO POR BRANCO. Contra fatos não há argumentos. O garotinho Leo Motta, do alto de seus 10 anos de idade, havia deixado marcado em seu album histórico a prova mais importante que já tinha visto até então.

Na sequência iniciei uma pesquisa na internet e a pergunta surgia por toda parte. Respostas positivas, respostas negativas, não importa. O inconsciente coletivo bradava a morte de um jogador escocês pelo pé esquerdo de Branco.

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Eu colhia as evidências, mas ainda faltava a prova final. E ela veio ano passado, por ocasião da Terceira Maratona Santistílica. Apenas para situá-los, a Maratona consiste de um grupo de homens já envelhecidos, em sua grande maioria já casados e pais de família, que se reúnem uma vez por ano e percorrem os principais bares da cidade de Santos tomando um chopp em cada.

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Um evento muito bonito, marcado pela alegria e vontade de viver.

Ano passado ela ocorreu um dia antes do jogo entre Santos e Fluminense na Vila Belmiro. Em sua última parada, com quem os participantes da Maratona toparam (acho que no Bar do Jorge ou coisa que o valha)?

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Sim, ele, o único, o verdadeiro matador, a bomba esquerda de Bagé, BRANCO.

Um dos participantes perguntou e ele respondeu. Sim, McLeod morreu. De traumatismo craniano. O problema é que era a última parada da Maratona. Tanto o Branco quanto os participantes estavam em condições trágicas. Mas falou tá falado. Agora cabe a você, analisar as evidências e chegar a suas próprias conclusões.

Bom, foda-se também, né? O Branco que eu conheço e adoro matou um cara na Copa de 90 e isso ninguém vai mudar.